Dupla licenciatura...

Não é frequente nos dias de hoje haver alguém com duas licenciaturas distintas, mas também não é inédito. Várias pessoas decidiram mudar o rumo da sua vida, e algumas delas escolheram medicina tardiamente e acabaram por ser bem sucedidas na sua mudança.

Medicina apareceu ainda antes de terminar engenharia o que veio em muito abanar o meu mundo. Como em tudo na vida, o que começo tenho que acabar, deixar coisas a meio não faz parte de mim, e foi com luta e garra que concluí a minha formação em engenharia.

Desde cedo comecei a estudar qual a melhor de entrar em medicina, coisa que logo me apercebi que não ia ser fácil, nada fácil mesmo...

Se escolhermos estudar em Portugal há duas maneiras distintas de entrar: concurso geral de acesso (como qualquer aluno que acaba o 12º ano e concorre) e o concurso especial para licenciados.

A forma tradicional implica médias de secundário elevadíssimas, regra geral acima de 18, coisa que para mim seria complicado... tinha acabado o secundário com média de 13! A alternativa podia ser tentar melhoria, ou fazer um novo curso de secundário que me permitisse ter uma média nova. À parte disso, iria necessitar de aprovação em exame nacional de Biologia-Geologia, Química-Física e Matemática e com distinção ;)

O concurso especial para licenciados acaba por ser especifico a cada faculdade, onde as vagas podem ir das 10 às 40, com critérios bastante amplos e específicos, alguns valorizam percurso académico, investigação, formação base, idade, etc, etc... Para alguém vindo da engenharia acaba por se tornar mais difícil ainda, isto é, imaginem competir com enfermeiros, psicólogos, biólogos entre outros tantos com mais ligações à saúde...

O concurso especial para licenciados, é aquilo a que se costuma dizer que são 7 cães para 1 osso, só que neste caso o número de cães aumenta exponencialmente e o osso diminui...

O importante é não desistir, porque apesar dos outros cães todos, eu estou a abanar a cauda de contente por ter um osso só para mim!!!

Quem nunca desejou, um dia, ser médico?

Quase todas as crianças já disseram um dia que queriam ser médicos... Não sei se para salvarem o Mundo, se pelo estatuto ou posição social, ou apenas porque sim...

No meu caso, e quase a chegar aos 30, quase no final de um mestrado em engenharia, começou a surgir uma luz ao fundo do túnel que me apaixonou e despertou em mim o interesse por uma formação na área da saúde.

Até à data nunca tinha pensado em ser médico sequer! Com uma média de 13 no secundário, uma reprovação pelo meio, sem bases de biologias e afins, como é que podia ter ambições em seguir medicina?!

O ingresso numa corporação de Bombeiros, ainda nem sei muito bem o que me levou a fazê-lo, veio mudar a minha vida de uma forma radical e numa volta que nem sei precisar de quantos graus foram.

O contacto com a emergência pré-hospitalar despertou em mim sentimentos enormes que ainda hoje não consigo explicar... Aliás frustra-me, grande parte das vezes a impotência em inúmeros casos que não podem ser resolvidos devido à falta de um profissional de saúde qualificado.

Senti que podia aprender mais, ajudar mais e de alguma forma fazer a diferença a muitas pessoas que ainda hoje só conseguem ser vistas por um profissional da saúde quando grande parte das vezes já é tarde demais! Todos nós podemos fazer a diferença e lutar por um mundo melhor...

Não tenho a ambição nem o sonho de salvar todo o Mundo, mas sinto que consigo fazer a diferença!